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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Do lixão ao doutorado: “Eu era um ser invisível", diz ex-catador de reciclagem

Dorival Gonçalves dos Santos, de 32 anos, passou quase um terço da vida recolhendo lixo para sobreviver e agora está prestes a concluir o doutorado em uma universidade pública.


Arquivo pessoal
Dorival quando estava na 1ª série. Ele dividia o tempo entre a escola e recolher material reciclado nas lixeiras da cidade

Quem via o menino mirrado e tristonho de quatro anos ano ao lado da mãe e das duas irmãs mais velhas revirando o lixão da cidade de Piedade, no interior de São Paulo, atrás de objetos e produtos que pudessem ser vendidos e muitas vezes até servir de alimentação para família, não imaginaria que quando adulto Dorival Gonçalves dos Santos Filhos, hoje com 32 anos, estaria prestes a concluir o doutorado em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina.
Santos teve sua primeira experiência no lixão da cidade natal por causa das condições precárias em que vivia a família. “Nessa época, eu ainda não tinha noção de tudo que faltava, mas a gente passava fome. Fiquei doente, acho que era desnutrição”, lembra. 
Enquanto o pai trabalhava na área de construção em outras cidades do Estado, e quase não ficava com a família, a mãe tinha a responsabilidade pelos três filhos – além de Santos, ela tinha duas meninas mais velhas, que tinham sete e dez anos.
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“A gente conseguia de tudo no lixão: comida, roupa, mas o foco principal era tentar colher todo material que desse para vender e conseguir dinheiro”, diz. “Como era muito pequeno, eu ficava tentando achar brinquedo”, lembra.

Por um curto período, a mãe e as irmãs deixaram o lixão e foram trabalhar na agricultura. Mas a sazonalidade do setor permitia apenas trabalhos temporários. A solução para compor a renda da família foi voltar a trabalhar com materiais considerados lixos para os outros, mas dessa vez longe do lixão. Quando tinha cinco anos, ele e as irmãs percorriam as lixeiras da cidade atrás de materiais que pudessem ser reciclados.
Precoce, aos seis anos, Santos foi matriculado na 1ª série. Todos os dias, ele acordava antes do sol nascer para percorrer a cidade atrás do lixo dos outros. Ao meio-dia, ia para escola. “Meus colegas me viam recolhendo lixo e me chamavam de lixeiro. Na época, eu vivia muito triste, porque não tinha infância. Enquanto eles brincavam, eu trabalhava."
Quando o menino tinha por volta de dez anos, o pai voltou definitivamente para casa. Mas o casamento acabou logo em seguida. Divorciada, a mãe arrumou um emprego como gari e os filhos tiveram de voltar para o lixão.
“A gente não tinha escolha. Se quiséssemos sobreviver, tinha de ser desse jeito", diz ele, que na época já tinha outros dois irmãos mais novos.
Fonte: IG.

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