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sábado, 17 de janeiro de 2015

56,12% DOS HOMICÍDIOS NO BRASIL TÊM LIGAÇÃO DIRETA COM O TRÁFICO DE DROGAS


Maioria dos mortos é de jovens pobres entre 15 e 25 anos, de baixa escolaridade e moradores de periferias das grandes cidades. Entorno de Brasília é a região com maior índice de criminalidade provocada pelo narcotráfico  
O Grupo UN de Notícias fez um levantamento sobre a criminalidade provocada pelo tráfico de drogas no Brasil. Durante três meses, os repórteres Willian Ferraz, Hugo Bross, Kaio Diniz e Vanderson Freizer, visitaram todas as regiões do país e constataram que em todas elas mais da metade dos homicídios, roubos e furtos tem ligação direta ou indireta com essa atividade criminosa.
Para chegar a este resultado, foram verificadas inúmeras ocorrências registradas pelas policias Civil, Militar e Federal, além de notícias divulgadas por vários veículos de comunicação e diálogos diretos com a população atingida pelo aumento da violência motivada pelo tráfico. O Grupo UN verificou que a situação é mais preocupante nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde o narcotráfico é responsável por mais de 60% de todas as ocorrências envolvendo homicídios e roubos.
Em todo o Brasil, 56,12% dos assassinatos têm ligação direta com o tráfico. Os mortos, em sua grande maioria são de jovens pobres de 15 a 25 anos. Os crimes geralmente são cometidos entre às 18hs e às 23hs e na maior parte, em bairros de periferia. A escolaridade das vítimas também chama a atenção, a maior parte dos mortos não concluiu o ensino médio e foram assassinados por arma de fogo e com requintes de crueldade extrema. Pelo menos 70% dos jovens assassinados sofreram qualquer tipo de agressão física antes de serem mortos e tiveram partes dos corpos cortadas após os homicídios.
Destaque para o número de mulheres mortas em função do trabalho para o crime. Cerca de 30% de todas as vítimas femininas fatais no Brasil tiveram qualquer tipo de envolvimento com a venda ou o uso de entorpecentes. A prostituição também esta em ritmo acelerado, muitas mulheres vendem seus corpos por valores entre R$ 10 e R$ 25, esse dinheiro é utilizado para a compra de crack, a droga ilícita mais consumida pelo sexo feminino.
As dividas adquiridas com os traficantes é a principal causa de assassinatos dos usuários. Brigas pelo controle de pontos de venda é o que causa a morte de pequenos vendedores de droga. Apenas 5% dos dependentes químicos morrem de overdose, e em geral, provocadas pelo consumo excessivo de cocaína, o que revela a inverdade sustentada pelos governos de que um viciado em crack morre em 5 ou 6 anos, após o inicio do consumo deste entorpecente.
Isso não significa que o crack não seja altamente nocivo a saúde e sim revela que o uso desta droga causa mais problemas de congestionamento em hospitais e centros de atendimento médico do que a morte por overdose de seus usuários. O crack causa visível destruição ao corpo dos viciados, mas dificilmente mata por consumo excessivo.
Região Norte – Nos estados do Norte do Brasil, o aumento de crimes ligados ao tráfico é cada vez maior, mas se comparada às demais regiões do país, podemos dizer que a situação ainda é a mais confortável. Em relação aos homicídios, o estado de Rondônia é o líder, cerca de 50% das mortes nas maiores cidades rondonienses está ligada a venda e ao uso de entorpecentes.
No Pará, os conflitos relacionados à luta por terras ainda é o que mais mata. Porém, o tráfico vem deixando sua marca no número de vítimas. 46,21% dos assassinatos cometidos nos grandes centros urbanos paraenses são provocados pelo tráfico. Em nenhuma das cidades do estado visitadas pelo Grupo UN, este número esteve abaixo dos 45%.
Região Nordeste – A prostituição em função do uso de entorpecentes é o que mais preocupa nos 9 estados do Nordeste brasileiro. Garotas de 10 a 18 anos vendem seus corpos por uma ou duas pedras de crack. João Pessoa, capital da Paraíba, é a cidade do país com maior índice de usuários de crack por cada grupo de 100 mil habitantes e é também, onde a prostituição infantil provocada pelo narcotráfico é mais visível.
Pernambuco e Paraíba são os estados que mais sofrem com a violência gerada pelos traficantes, respectivamente 59% e 61% da criminalidade das cidades desses estados tem ligação direta ou indireta com o tráfico. Em Fortaleza, capital do Ceará e em Salvador, capital da Bahia, foram verificados o maior índice de ameaças devido a dividas geradas pelos usuários. 58% dos jovens entre 14 e 25 anos assassinados nessas duas cidades tiveram envolvimento com o tráfico, ou eram devedores aos traficantes.
Região Centro-Oeste – No Centro-Oeste a situação é mais preocupante, sobretudo na região metropolitana de Goiânia, onde a criminalidade cresceu 120% entre 2010 e 2011, e o número de assassinatos passa de 10 por final de semana. O Entorno de Brasília esta entre os lugares mais violentos do planeta, a ligação dessa realidade com o tráfico é visível. Em cidades como o Novo Gama e Valparaíso de Goiás a situação está fora de controle e o trabalho da polícia se resume em conter chacinas.
Em Goiânia e em Aparecida de Goiânia, 60% e 67% dos crimes registrados pelas policias Civil e Militar, são ligados ao tráfico. Além disso, o Grupo UN apurou que com exceção de São Paulo e Rio de Janeiro, é no Centro-Oeste onde existe maior envolvimento de policiais e de jovens de classe média alta na venda e uso de entorpecentes, em especial a maconha e a cocaína.
O estado do Mato Grosso é a porta de entrada de todo o tipo de drogas no país, vindas especialmente da Bolívia e da Venezuela. Também ficou evidente que o Mato Grosso do Sul esta entre as rotas preferenciais dos traficantes. Quase todos os dias pessoas são presas em Campo Grande tentando transportar entorpecentes para o restante do Brasil e para cidades que fazem as rotas internacionais. Em Mato Grosso 54% dos crimes são ligados ao tráfico e no Mato Grosso do Sul, este número sobe para 57%.
Região Sudeste – O estado de São Paulo é um dos maiores consumidores de cocaína do Brasil, perdendo apenas para o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. São Paulo tem um paradoxo incomum em relação aos outros estados analisados, enquanto que em cidades do interior como Campinas e São José do Rio Preto, existem maior consumo de cocaína e maconha, em especial por jovens de classe média; na capital do estado e em cidades próximas, o crack é a droga mais consumida e gera mais da metade dos homicídios na região, provocados por dividas dos usuários que se tornam impagáveis.
Belo Horizonte é a cidade onde a situação parece estar sobre controle, porém, na região metropolitana da capital, os índices de mortes relacionadas ao tráfico vêm crescendo consideravelmente. A capital mineira é também um centro de distribuição internacional de entorpecentes, atrás de Florianópolis e cidades do Paraná. São Paulo e Minas Gerais estão entre os estados com aspectos mais confortáveis em relação à criminalidade provocada pelo narcotráfico. Respectivamente 47% e 49% das ocorrências policiais têm ligação com este tipo de crime.
Região Sul – Na região Sul o incomum aconteceu. O Paraná é o estado brasileiro com menor índice de violência gerada pelo tráfico, cerca de 40% dos crimes paranaenses tem ligação com a venda de drogas. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul é o campeão em consumo de cocaína e é o estado que mais sofre com problemas gerados pelo crack. 54% da criminalidade gaúcha têm ligação direta com o narcotráfico e os jovens vêm se drogando cada vez mais e morrendo cada vez mais cedo. Na periferia, boa parte dos adolescentes não completa 19 anos.
Quase não existem centros de tratamentos para os dependentes químicos que estão entre os que mais procuram ajuda no Brasil. Os jovens do Sul querem sair do vício, só não tem como fazer isso, pois os tratamentos são caros e os locais mantidos pelo governo são caóticos e não tem condições de recuperar ninguém. No Sul, foi verificado ainda, um maior sofrimento por parte dos familiares dos viciados, isso porque, meninos entre 10 e 13 anos já estão experimentando o crack pela primeira vez.
O que favorece a entrada no crime? – “Veja isso aqui repórter, nós não temos saúde, educação, esporte ou lazer. Nosso esgoto corre pelas ruas, nossos filhos se alimentam em meio a um grande número de moscas, não há emprego, não existe investimento público nessas pessoas, só nos resta o crime”, disse emocionado um morador de Belém a nossa reportagem.
E a afirmação é verdadeira! Em todas as cidades visitadas pelo Grupo UN, o alto índice de homicídios e de viciados em drogas estava concentrado nas periferias, em bairros sem nenhuma infraestrutura e grandes favelas. O que nos leva à conclusão de que a falta de investimentos públicos em saúde, educação e lazer é o principal fator que favorece a entrada do jovem para o mundo do crime.
“O Brasil vive uma guerra civil contra o tráfico, nossa imprensa se preocupa muito com as mortes em países onde tudo passa dos limites, mais ignoram nosso problema, um dos mais graves da America Latina. Por dia centenas de jovens são mortos em função do tráfico, e vão investir bilhões de reais em Copa do Mundo. Algumas sedes deste evento são campeãs de mortes, destaque para o Recife, Fortaleza e Brasília, mas isso não tem importância. O importante é manter o país afundado no caos”, destacou um delegado da Policia Civil do Rio Grande do Norte.
A desigualdade social é maior do que se pensa, ou do que o governo federal realmente diz ser. É visível a divisão de classes sociais nas grandes cidades brasileiras. Os ricos estão “protegidos” em suas mansões e os pobres lutam pela sobrevivência em meio a barracos feitos de taboas e pequenas ruelas que dão acesso as favelas.
O Brasil precisa de ajuda. A população sofre com o crescimento da criminalidade gerada pelo narcotráfico e é cada vez maior o abismo que divide a realidade das propagandas governamentais e a vida nas grandes cidades. Enquanto os jovens morem, o governo garante altos investimentos em educação, saúde e esporte. Vendo as propagandas de TV, rádio e veículos de comunicação impressos, chegamos a acreditar em um país melhor, mas quando viajamos para conhecer a realidade nua e crua, as lágrimas vêm aos olhos por ver tanto sofrimento e dor.
A mudança depende de nós, um fato cruel que precisa ser mudado com urgência: 98% dos municípios brasileiros têm a venda de crack e de outras drogas, enquanto que, em apenas 11% deles existem projetos que visam prevenir a entrada dos jovens no mundo dos entorpecentes. Nenhuma das atividades educacionais visitadas pelo Grupo UN tinha qualquer ajuda de nenhum tipo de governo.
Fonte:http://culturaverde.org/

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