Aliados acham que presidente da Câmara pode aprovar pedido de impeachment.
BRASÍLIA — As declarações da presidente Dilma Rousseff, ontem, em Estocolmo, devem dificultar a semana do governo no Congresso. Com a necessidade de ambos os lados ganharem tempo, a expectativa até o fim de semana era que Cunha segurasse a análise do novo pedido de impeachment de Dilma que será apresentado amanhã pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reali Júnior. Ontem à tarde, no entanto, o cenário mudou e o Palácio do Planalto corre o risco de ter desperdiçado o fôlego conquistado.
Segundo pessoas próximas a Cunha, ele ficou irritado com as declarações e não descartam que ele dê “um cavalo de pau”, deferindo a ação contra Dilma. Auxiliares presidenciais, por sua vez, buscam consertar o potencial estrago causado pela presidente a milhares de quilômetros de casa. Os governistas passaram a ver com pessimismo os próximos passos de Cunha:
— Será uma semana de alta adrenalina. Ela botou fogo no estopim da bomba da cassação. No governo, tem sido assim: apagar o incêndio criado por ele mesmo — disse um ministro que pediu reserva ao GLOBO.
Em conversas com aliados ontem à tarde, Cunha disse que não iria “colocar pilha” pelo áudio da entrevista de Dilma que ouviu, mas que deverá respondê-la hoje quando chegar na Câmara, depois de avaliar os detalhes da fala da presidente pelas matérias publicadas na imprensa.
— Será inevitável responder — disse Cunha.
RISCO DE DEFERIMENTO
Interlocutores do presidente da Câmara dizem que ele não descarta deferir o impeachment, e que tratará da abertura de um eventual processo como algo absolutamente natural, já que é esperada a apresentação de um documento com substância jurídica.
— Não tenha dúvida de que o risco de Eduardo deferir o pedido de Bicudo depois de ser atacado por Dilma é alto. Ele pode ampliar a crise para que seu desgaste seja diluído. Teremos fortes emoções aí pela frente. A situação dele é insustentável, e nós não vamos segurar. Vai perder a presidência da Câmara ou o mandato, ou os dois, dependendo da evolução do quadro. Ele iniciou um namoro com a oposição, que estava interessada em aprovar o pedido de impeachment. Depois, migrou para o governo. Foi abandonado e agora não tem mais conversa com a gente — disse um dos líderes da oposição que ainda mantém diálogo com o presidente da Câmara.
Um dos mais próximos interlocutores de Cunha, o líder do PSC, deputado André Moura (SE), disse que o presidente da Câmara já sabe exatamente o que fazer quanto ao andamento do impeachment.
— Não vou dizer que ele está tranquilo porque a situação é muito delicada. Mas se mostra consciente de tudo e está sabendo exatamente os próximos passos que irá tomar — disse Moura, que vai se reunir com o presidente da Câmara hoje, em Brasília.
Apesar da avaliação de aliados de que sua situação é frágil porque o processo pode ser contaminado por falta de credibilidade, um peemedebista afirmou ontem que o estilo de Cunha é de se manter em posição de ataque quando ameaçado.
por Simone Iglesias, Maria Lima e Fernanda Krakovics
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