SÃO PAULO — Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o diretor do
Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas,
citou pagamentos feitos a Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Segundo o executivo, a empreiteira pagava uma espécie de
mesada ao irmão de Lula no valor de R$ 5 mil.
Em seu
depoimento, Hilberto Mascarenhas também confirmou que o codinome “Amigo”
fazia referência ao ex-presidente Lula. Mascarenhas comandava o Setor
de Operações Estruturadas da empreiteiras, considerado pelos
investigadores como o “departamento da propina”. Segundo o executivo, no
entanto, nunca lhe foi solicitado nenhum pagamento ao codinome “Amigo”.
—
Estava (na planilha) porque ele (Lula) tinha um saldo, mas nunca me foi
solicitado que fizesse nenhum pagamento a ele. Sei que tinha um
pagamento, mas que não era debitado a ele, feito a um irmão dele. Era
feito mensalmente pela Odebrecht de R$ 5 mil por mês. Quem pode
esclarecer isso era a pessoa nossa que cuidava dessa interação, o
Alexandrino (Alencar) — afirmou Mascarenhas.
A
Procuradoria-Geral da República pediu que a investigação sobre o caso
fosse enviada pelo ministro José Edson Fachin para o juiz Sérgio Moro .
Fachin concordou com o pedido e enviou o processo para a 13ª Vara
Federal de Curitiba. O processo foi baseado nas declarações de Hilberto
Mascarenhas e Alexandrino Alencar.
Em sua decisão, Fachin afirmou que os executivos disseram que os pagamentos eram feitos em dinheiro e com a ciência de Lula.
Em
nota, o Instituto Lula afirma que o ex-presidente Lula e seus
familiares tiveram seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua
residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há mais de um
ano, mais de 100 testemunhas foram ouvidas em processos e não foi
encontrado nenhum recurso indevido ou ilegalidade cometida pelo
ex-presidente.
“Lula jamais solicitou ou recebeu qualquer
recurso indevido para a Odebrecht ou para qualquer outra empresa e
sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois de ser presidente da
República democraticamente eleito por dois mandatos”.
Segundo
o instituto, Lula não tem conhecimento ou relação com qualquer planilha
na qual outros possam se referir a ele como “Amigo”, e nem essa
planilha nem esse apelido são de sua autoria ou do seu conhecimento.
PAGAMENTOS A JOÃO SANTANA E PALOCCI.
Em
seu depoimento ao juiz, Hilberto Mascarenhas detalhou os pagamentos
feitos a Mônica Moura e João Santana, ex-marqueteiro do PT. Segundo o
delator, o valor pago aos dois teria sido em torno de US$ 30 milhões a
US$ 40 milhões. Na audiência, o e executivo contou que Mônica Moura lhe
foi apresentada por Marcelo Odebrecht, que indicou que a mulher de João
Santana teria direito a um crédito com a empresa. Os pagamentos teriam
sido feitos no Brasil e no exterior.
— Ela identificava
um local em São Paulo, hotel, um local físico onde ela estava ou o
preposto dela estava e a gente mandava entregar — disse Mascarenhas.
Questionado se o local indicado por Mônica Moura era sempre o mesmo, o executivo negou.
— Variava. Eu nem deixava que fosse no mesmo local — afirmou.
Sobre
os pagamentos feitos ao ex-ministro Antonio Palocci, Hilberto
Mascarenhas afirmou que Palocci era o ‘Italiano’ nas planilhas da
Odebrecht. Questionado pelos advogados do ex-ministro se havia outras
pessoas conhecidas pelo codinome ‘Italiano’, Mascarenhas negou. Segundo o
advogado de Palocci, José Roberto Batocchio, Emílio Odebrecht e
Fernando Migliaccio apresentaram versões contraditórias sobre o apelido,
ligando-o a mais de uma pessoa.
Durante o depoimento, o
clima esquentou entre o juiz Sérgio Moro e Batocchio. Enquanto fazia
suas perguntas, Moro ironizou uma declaração dada por Batocchio
anteriormente, em que afirmou que o ‘Italiano’ poderia ser um pizzaiolo.
Na audiência, enquanto fazia perguntas para Mascarenhas, Moro o
questionou se Italiano se referia somente a Antonio Palocci. Ao receber
uma resposta afirmativa, questionou novamente:
— Algum pizzaiolo? — disse.
Em
nota divulgada na terça-feira, a Odebrecht informou que “após a
colaboração dos executivos e ex-executivos”, a empresa “reconheceu seus
erros, pediu desculpas públicas e assinou um Acordo de Leniência com as
autoridades brasileiras e da Suíça, e também com o Departamento de
Justiça dos Estados Unidos”.
A empresa diz estar fazendo
sua parte ao adotar “um novo modelo de governança” e implantar “normas
rígidas de combate à corrupção, com vigilância permanente para que todas
as suas ações, principalmente na relação com agentes públicos, ocorram
sempre dentro da ética, da integridade e da transparência”.
*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire
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