quarta-feira, 12 de abril de 2017

Irmão de Lula recebia mesada de R$ 5 mil da Odebrecht, diz delator.

SÃO PAULO — Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o diretor do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, citou pagamentos feitos a Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o executivo, a empreiteira pagava uma espécie de mesada ao irmão de Lula no valor de R$ 5 mil.

Em seu depoimento, Hilberto Mascarenhas também confirmou que o codinome “Amigo” fazia referência ao ex-presidente Lula. Mascarenhas comandava o Setor de Operações Estruturadas da empreiteiras, considerado pelos investigadores como o “departamento da propina”. Segundo o executivo, no entanto, nunca lhe foi solicitado nenhum pagamento ao codinome “Amigo”.

— Estava (na planilha) porque ele (Lula) tinha um saldo, mas nunca me foi solicitado que fizesse nenhum pagamento a ele. Sei que tinha um pagamento, mas que não era debitado a ele, feito a um irmão dele. Era feito mensalmente pela Odebrecht de R$ 5 mil por mês. Quem pode esclarecer isso era a pessoa nossa que cuidava dessa interação, o Alexandrino (Alencar) — afirmou Mascarenhas.

A Procuradoria-Geral da República pediu que a investigação sobre o caso fosse enviada pelo ministro José Edson Fachin para o juiz Sérgio Moro . Fachin concordou com o pedido e enviou o processo para a 13ª Vara Federal de Curitiba. O processo foi baseado nas declarações de Hilberto Mascarenhas e Alexandrino Alencar.

Em sua decisão, Fachin afirmou que os executivos disseram que os pagamentos eram feitos em dinheiro e com a ciência de Lula.

Em nota, o Instituto Lula afirma que o ex-presidente Lula e seus familiares tiveram seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há mais de um ano, mais de 100 testemunhas foram ouvidas em processos e não foi encontrado nenhum recurso indevido ou ilegalidade cometida pelo ex-presidente.

“Lula jamais solicitou ou recebeu qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou para qualquer outra empresa e sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois de ser presidente da República democraticamente eleito por dois mandatos”.

Segundo o instituto, Lula não tem conhecimento ou relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como “Amigo”, e nem essa planilha nem esse apelido são de sua autoria ou do seu conhecimento.

PAGAMENTOS A JOÃO SANTANA E PALOCCI.

Em seu depoimento ao juiz, Hilberto Mascarenhas detalhou os pagamentos feitos a Mônica Moura e João Santana, ex-marqueteiro do PT. Segundo o delator, o valor pago aos dois teria sido em torno de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões. Na audiência, o e executivo contou que Mônica Moura lhe foi apresentada por Marcelo Odebrecht, que indicou que a mulher de João Santana teria direito a um crédito com a empresa. Os pagamentos teriam sido feitos no Brasil e no exterior.

— Ela identificava um local em São Paulo, hotel, um local físico onde ela estava ou o preposto dela estava e a gente mandava entregar — disse Mascarenhas.

Questionado se o local indicado por Mônica Moura era sempre o mesmo, o executivo negou.
— Variava. Eu nem deixava que fosse no mesmo local — afirmou.

Sobre os pagamentos feitos ao ex-ministro Antonio Palocci, Hilberto Mascarenhas afirmou que Palocci era o ‘Italiano’ nas planilhas da Odebrecht. Questionado pelos advogados do ex-ministro se havia outras pessoas conhecidas pelo codinome ‘Italiano’, Mascarenhas negou. Segundo o advogado de Palocci, José Roberto Batocchio, Emílio Odebrecht e Fernando Migliaccio apresentaram versões contraditórias sobre o apelido, ligando-o a mais de uma pessoa.

Durante o depoimento, o clima esquentou entre o juiz Sérgio Moro e Batocchio. Enquanto fazia suas perguntas, Moro ironizou uma declaração dada por Batocchio anteriormente, em que afirmou que o ‘Italiano’ poderia ser um pizzaiolo. Na audiência, enquanto fazia perguntas para Mascarenhas, Moro o questionou se Italiano se referia somente a Antonio Palocci. Ao receber uma resposta afirmativa, questionou novamente:
— Algum pizzaiolo? — disse.

Em nota divulgada na terça-feira, a Odebrecht informou que “após a colaboração dos executivos e ex-executivos”, a empresa “reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas e assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e também com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.

A empresa diz estar fazendo sua parte ao adotar “um novo modelo de governança” e implantar “normas rígidas de combate à corrupção, com vigilância permanente para que todas as suas ações, principalmente na relação com agentes públicos, ocorram sempre dentro da ética, da integridade e da transparência”.

*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire

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